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Quando a tragédia também é política

Eu não vou poder falar sobre os aspectos climáticos do que está acontecendo em Porto Alegre, porque eu não sou geógrafo, ecologista, nem climatologista. Não posso falar sobre as comportas que não funcionaram porque não sou engenheiro. Não posso dizer pra onde mandar ajuda porque não trabalho com ONGs, nem sou da Defesa Civil. E, talvez, a primeira pergunta importante que eu posso me fazer é: sobre o que eu posso falar?


Eu posso falar sobre indignação. A primeira indignação é a da falta de decência em ver e ouvir pessoas que tem um alcance monumentalmente maior do que o meu dizendo que não é momento de “politizar” a tragédia. Que distopia medonha é essa que a gente vive em que as decisões de colocar recursos pra Defesa Civil não é política? É o que? Religiosa? Que imbecilidade coletiva a gente está vivendo pra ouvir que deveriam ter cancelado um show em uma cidade a 1500 km que foi pago, em parte, com dinheiro de empresas privadas, para criar uma (má intencionada) indignação coletiva sobre os gastos públicos? E os projetos de governo de alterar (leia-se “atropelar”) o Código Ambiental do Rio Grande do Sul sem passar pela Comissão de Saúde e Meio Ambiente da Assembleia Legistaltiva é uma decisão afetiva?


Quantos Brumadinhos e Marianas têm que acontecer pra entrar nessas cabeças com disfunções cognitivas de entender que tudo isso é político também? Desastres ambientais não são motivados por política, no sentido de que não chove porque o Congresso baixou um projeto de lei. Mas são políticos quando o governador do estado pressiona para passar a boiada e relaxar leis de proteção ambiental para “colocar o Estado para crescer”.


“Política” não é palavrão. Sabe o que acontece quando a gente tira a política desse jogo? As pessoas podem com muita facilidade jogar a carta da “tragédia”, da “fatalidade”, da “infelicidade” e, quando a mídia começa a ser atraída por outras manchetes, quando passam as hashtags do Twitter (X não existe, é Twitter)... Nada acontece, a não ser as degraças nas vidas das pessoas que foram diretamente afetadas por uma enchente, por um rompimento de barragem, por um deslizamento de terra. Isso é político e tem que ser tratado como político e, mais importante, tem que ser cobrado como político. É hora, sim, de discutir política ao mesmo tempo (e não “ao invés de”) em que se discute resgates, doações e proteção civil.


 

 

 

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