Às vezes eu acho que sou um mau escritor. Agora, acho que não sou nem escritor. Acho que sou um impostor que sabe juntar palavras em alguma ordem. Mas, costurar palavras num único fio de barbante não faz de mim um escritor. Faria de mim um escritor costurar sentimentos, bordar uma emoção numa trama. Eu só escrevo. Eu só penso em palavras que combinam juntas.
Enquanto eu estou sentado, os meus dedos escolhem as letras que, encaixadas umas nas outras, formem palavras, bloquinhos que também precisam se encaixar uns nos outros. Quando eu misturo as palavras, elas me movem, me empurram pra lugares, às vezes elas lutam pra sair, às vezes eu preciso destruir uma ou um monte delas. Nunca, absolutamente nunca, são palavras seguras, nem quando elas se misturam em descrições de sociedades que não existem há muitos e muitos séculos. As palavras são pedaços de argila que eu tento dar alguma forma consistente. Às vezes quando consigo moldá-las em uma determinada ordem, elas me fazem chorar. Mas são as palavras que me fazem chorar? Ou é a palavra é só um espelho?
Se for um espelho, eu nunca tive pretensão de que as pessoas admirem meus espelhos. A única coisa que eu gostaria é o reconhecimento de que de fato eu produzo espelhos que não reproduzam só a minha imagem e semelhança, porque senão eu não sou um produtor de espelhos. Eu não sou escritor. Eu só escrevo.
Eu não preciso produzir espelhos lindos ou os melhores espelhos do mundo. Eu só queria não produzir espelhos falsos, nos quais eu consigo ver a minha cara, mas todo o resto do mundo consegue só me ver do lado de fora. Porque daí eu não vou poder mais produzir nada, nem espelho, nem vidro, nem nada...
❤️❤️❤️❤️